MASCULINO, FEMININO - TENSAO INSOLUVEL

Maria Isabel Mendes de Almeida levou longos anos de sua vida para concluir, com sólida fundamentação teórica, que, a despeito de todas as revoluções feitas pela mulher, o homem não mudou em nada. Ainda é aquele arcaico que, no mundo de hoje, aparentemente só teria lugar na ficção literária. Esta foi a sua constatação na tese de doutorado, defendida em 1994 no Instituto Universitário de Pesquisa do Estado do Rio de Janeiro (Iuperj). O caráter conservador dos homens é insolúvel, embora esteja disfarçado por uma estética e por um discurso moderno. Maria Isabel Mendes de Almeida mergulhou na tarefa pesada de trabalhar a questão da subjetividade humana, elaborada de maneiras distintas por autores como Rousseau, Tocqueville, Simmel, Weber, Sérgio Buarque de Hollanda, Paulo Prado, Gilberto Freyre e Antônio Cândido. Os conceitos, as definições e as criações destes intelectuais atravessam, de maneira deliciosa, 25 entrevistas feitas com homens de classe média de 40 a 60 anos e desmascaram a cobertura contemporânea de perfil extremamente conservador. Tome-se por exemplo o depoimento de Fernando (o nome é fictício), advogado, 41 anos, ex-professor universitário e diretor de um escritório privado: "Eu tenho amigos de 60 anos que simplesmente não têm mais potência. São separados, "abriram" porque diziam; "olha, com uma mulher de 60 anos, só se for muito novidade, se tiver um cheiro diferente; se for de cama e mesa de muitos anos, não dá não!" São declarações deste tipo que vão construindo toda a valorização estética da subjetividade masculina, que resulta em atração sexual exclusivamente por mulheres jovens e que consolida a convicção de que o tempo destrói inexoravelmente a paixão (amor e sexo) entre um homem e uma mulher. Este livro é um espelho implacável para os homens e uma referência para as mulheres sobre a incomunicabilidade entre papéis sociais tão distintos.