A história do guereiro bíblico Sansão é bastante conhecida. Em Mel de leão, no entanto, David Grossman, um dos maiores expoentes da literatura contemporânea, mostra como nossa interpretação desse personagem do Velho Testamento não dá conta de toda sua complexidade. Embora seja a idéia difundida em inúmeros filmes e livros, Sansão nunca escolheu ser o vingador do seu povo contra os opressores filisteus, até porque nunca lhe foi dada uma alternativa. Desde a concepção divina e o nascimento, seu destino já estava traçado. Com sensibilidade de romancista e olho de erudito, o autor analisa os motivos e as intenções de Sansão em cada um de seus atos. Mel de leão não é, entretanto, uma exegese bíblica, a demandar conhecimento de línguas mortas e anos de estudo. É uma romantização do mito, uma verdadeira investigação psicológica do personagem bíblico. Que passa, aqui, de gigante poderoso e ingênuo a homem mulifacetado e cheio de inquitações, que luta durante toda sua breve existência para conquistar uma identidade, em contradição com a própria missão divina. A interpretação de Grossman acaba por imprimir cores de tragédia clássica ao mito, e assim amplifica sua força. Mais que isso, o Sansão do autor nos faz refletir não só sobre questões religiosas e grandes destinos, mas também sobre o mundo contemporâneo e o homem comum.