A melancolia de esquerda sempre existiu. Não é nostalgia pelo socialismo real, mas uma “tradição esquecida” que não pertence à narrativa canônica do socialismo e do comunismo, com a sua fé no progresso e o orgulho de saber combater lutas justas e vitoriosas. A melancolia esquerda encarna o espírito da dúvida, longe dos mitos e da propaganda. Sabe que os totalitarismos podem retornar, que a história é imprevisível, que as lutas do presente devem manter os olhos abertos sobre as derrotas passadas, porque cada tragédia guarda uma promessa de redenção e o olhar dos vencidos é mais penetrante do que o dos vencedores. As ruínas das batalhas perdidas são o coração de onde nascem novas ideias e novos projetos. Com o colapso do Muro de Berlim não chegou ao fim apenas o socialismo real; exauriu-se também o tempo das utopias com as quais queríamos mudar o mundo, forçando-nos a colocar em questão as ideias com quais havíamos tentado interpretá-lo. Enzo Traverso percorre os vestígios de uma cultura de esquerda, que ao ser capaz de fazer as contas com a derrota, pode talvez se repensar. Estas páginas interpelam as grandes figuras que marcaram a história desta tradição subterrânea: de Marx a Benjamin, até Daniel Bensaid, passando pela pintura de Gustave Courbet e os filmes de Chris Marker e Theo Angelopoulos, demonstrando com vigor e de maneira contra-intuitiva toda a carga subversiva e libertadora do luto revolucionário. Um livro que explica o que é a cultura de esquerda, revelando as suas complexidades e entrechos.