O Brasil vive uma expressiva revolução em sua pirâmide etária. No período de 2010 a 2035 o número de habitantes com mais de 60 anos em nosso país vai dobrar. O que a França levou 140 anos, a Inglaterra 80 anos e os Estados Unidos 75 anos oBrasil fará em 25.
Muito provável que, em alguns anos, tenhamos a pirâmide etária dos países desenvolvidos o que, com certeza, é uma notícia muito positiva para o Brasil. Esta conquista deve ser comemorada e seus principais atores referenciados e
reconhecidos: Hospitais, Universidades, Industria Farmacêutica, Profissionais de Saúde, Operadoras de planos de saúde e, sem dúvida, o mais importante de todos, o SUS - Sistema Único de Saúde do Brasil. Mesmo com todos os desafios de
subfinanciamento e gestão, o SUS é uma política de Estado afirmativa e estruturante.
O ponto de reflexão é que vivemos em um país que não possui geração de riqueza
(produto interno bruto) que proporcione os investimentos necessários para custear com qualidade e equidade a saúde dos brasileiros.
Nos países da Europa, o investimento per capita em saúde fica entre U$ 5.000,00 e U$ 7.000,00, nos Estados Unidos ultrapassa os US$ 10.000,00 e, no Brasil, ficamos próximos de US$ 1.000,00, que são insuficientes para cobrir os gastos de saúde com a população.
Estamos ficando mais velhos, o que, por consequência, gera um aumento de prevalência das doenças crônicas e, também, de outras patologias de maior complexidade. Durante a pandemia da Covid-19, ficou claro que um paciente com maior número de comorbidades estará mais sujeito ao agravamento de doenças respiratórias.
Somados a estes dois pontos que considero muito significativos: envelhecimento populacional rápido e a insuficiência de recursos para cobrir os gastos e investimentos necessários temos, também, uma outra questão estruturante que muito preocupa o cuidado da saúde do idoso, a coordenação eficiente do cuidado. No SUS, temos um modelo de coordenação de cuidado mais organizado. Temos a estruturação dos programas de estratégia de saúde da família e dos sistemas de
referência e contrarreferência, porém pacientes idosos (como os demais pacientes também) em situações de maior gravidade como, por exemplo, uma cirurgia cardíaca seguem o seguinte roteiro quando não em caso de urgência: atenção primária, consulta especializada, exames diagnósticos, indicação cirúrgica e, depois de todas as etapas, são incluídos em uma fila cirúrgica, aguardando a disponibilidade de execução dos procedimentos que, quando autorizados, os paciente são referenciados para o Hospital.
Vejam as oportunidades de melhoria neste processo. Na maioria dos casos, a equipe de atenção primária não tem contato com a equipe de atenção especializada do hospital. Não parece ser óbvio que uma maior integração entre estas equipes e a
existência de um prontuário eletrônico único poderiam contribuir para a qualidade do cuidado que, no caso de um paciente idoso, todo o processo requer mais atenção decorrente de doenças pré-existentes, comorbidades, medicações de uso continuo, questões psicossociais e outras que podem impactar na qualidade do cuidado?
Apesar de todas as dificuldades apontadas no sistema público, podemos afirmar que existe um planejamento estruturado do cuidado em suas diversas etapas (mesmo que não integrado), enquanto que na saúde privada, onde não temos uma estrutura de cuidado voltada à promoção e prevenção a saúde, este processo pode parecer, também, desintegrado com impactos no processo de cuidado. Quando chegamos dentro dos nossos hospitais, organizamos o cuidado, na maioria
das vezes, por especialidades em unidades dedicadas a pacientes clínicos, cirúrgicos, ortopédicos, oncológicos e outras de acordo com a vocação de atendimento de cada instituição.
Na minha visão, uma das nossas maiores oportunidades para melhorar a qualidade do cuidado é questionar a lógica que usamos para alocação dos pacientes idosos no ambiente hospitalar. Hoje, os hospitais estão com um maior número de pacientes idosos, de maior complexidade e gravidade e estes são internados na maioria das vezes em unidades de internação (leitos) vocacionadas pela característica da patologia do paciente, e não pela natureza do cuidado à pessoa idosa.
Este livro busca compartilhar conteúdos de um modelo de atenção ao cuidado centrado no paciente e nas características do paciente idoso, trazendo conceitos, técnicas, modelos e práticas que são aplicadas e vivenciadas pela equipe
multiprofissional do Hcor-Hospital do Coração de São Paulo.
Além de conteúdos técnicos, a obra tem como objetivo trazer um modelo de cuidado humanizado, empático e de muito respeito aos pacientes e seus familiares, reconhecendo nestes, um papel ativo e protagonista durante todo o processo assistencial. Trabalhamos com o conceito de experiência da pessoa humana, que integra no processo assistencial o paciente, seus familiares e os profissionais de saúde. A relação entre todos, de forma efetiva, científica e humanizada tem relação direta com os desfe