Uma sabia nadar. Outra, remar. As duas escritoras queriam trocar experiências e, por anos, Gail e Caroline remaram juntas. Esta é a história de duas amigas inseparáveis que só se desligaram fisicamente com a morte de Caroline Knapp, e que a autora, Gail Caldwell, conta em `A memória de uma amizade eterna`. Íntimas, com um passado coincidentemente perturbador - ambas foram alcoólatras -, as amigas tinham outro ponto de intersecção: Caroline havia passado por um período de anorexia aos vinte anos e Gail havia tido paralisia infantil, mancando um pouco por conta disso. Em comum, tinham a literatura - Caroline era escritora e colunista do The Boston Phenix e Gail, crítica literária do The Boston Globe -, e o amor pelas cadelas, Lucille e Clementine respectivamente. Logo no primeiro encontro, um passeio de quatro horas em uma floresta no final do verão, que teve a companhia das cachorras, ambas começaram a trocar confidências. O afeto que sentiam ficou ainda mais sólido quando conversaram sobre seus trabalhos, sobre “o mundo da inveja e da rivalidade, sobre as inseguranças e as diferenças de poder”. Lentamente, as amigas foram construindo uma troca afetiva substancial, às vezes silenciosa. Como Gail conhecia o passado anoréxico de Caroline, passou a oferecer dois biscoitinhos durante as conversas na floresta. E Caroline, bastante educada, não conseguia recusar. Então, Gail adicionou ao lanchinho pedaços de chocolate. Caroline deixava que Gail a alimentasse, e Gail, sempre muito independente, e temerosa de que alguém precisasse dela para viver, colhia frutas e nozes para dar à amiga. Ex-fumante, Gail se preocupava com o vício de Caroline. E quanto mais íntimas se tornavam, menos Gail aguentava as baforadas de Caroline. Até que um dia, alterada, gritou ao telefone que não gostaria de enterrar a amiga – atitude que se tornou dolorosa de relembrar depois da morte de Caroline.