A arena do patrimônio cultural no Brasil está vivendo um momento novo. Se durante décadas predominou um tipo de atuação preservacionista voltado prioritariamente para o tombamento dos chamados bens de pedra e cal – igrejas, fortes, pontes, chafarizes, prédios e conjuntos urbanos representativos de estilos arquitetônicos específicos –, a aprovação do Decreto 3.551, de 4 de agosto de 2000, que instituiu o inventário e o registro do patrimônio cultural imaterial ou intangível, descortinou um panorama que provocou a alteração radical da antiga correlação de forças. Parece justo afirmar que uma revolução silenciosa se processa quando segmentos da sociedade civil, detentores de saberes tradicionais e locais, associados a profissionais no interior do aparelho de Estado, detentores de saberes específicos, põem em marcha um novo conceito de patrimônio cultural, contribuindo social e politicamente para a construção de um acervo amplo e diversificado de expressões culturais em diferentes áreas; línguas, festas, rituais, danças, lendas, mitos, músicas, saberes, técnicas e fazeres diversificados. As forças desencadeadas pelo debate em torno do patrimônio cultural intangível desenham um novo cenário. Essa redefinição passa inclusive pelo campodo biopatrimônio e do patrimônio genético, propondo novos olhares para a relação entre natureza e cultura, e facilitando a compreensão da noção de patrimônio natural como uma construção que se faz a partir do intangível. No campo dos museus, por suavez, constata-se a revitalização de novas práticas discursivas e de colecionamento, bem como o desenvolvimento de novos estudos. Nunca se colecionou tanto, nunca se arquivou tanto, nunca tantos grupos se inquietaram tanto com memória, patrimônio e museus. Memória e patrimônio; ensaios contemporâneos reúne um conjunto expressivo de capítulos, resultado de reflexões instigantes e atuais desenvolvidas por um grupo variado de autores que reconhecem a posição de centralidade ocupada pelo tema no deba