O autor preparou-se para enfrentar a pandemia em total isolamento: separou muitas dúzias de ovos, uma frigideira pronta para ser esquentada e untada com manteiga. Também arrumou vareta de bambu para mexer o mexido. Marcado o dia “D”, trancou as portas e então percebeu que seu aparelhamento de cozinha limitava-se ao telefone. Durante mais de ano gastou a maior parte do tempo encomendando pratos feitos e exibindo o cartão bancário pelas frinchas da porta. O tempo restante correu tentando ordenar a coleção de anotações sobre os mais diversos assuntos que, em oitenta e três anos de vida, derramou sobre arremedo de escrivaninha. Por fim, concluiu que passara oito décadas apurando o alcance da máxima manda quem pode e obedece quem tiver juízo. Felizmente, alcançado esse ponto, a pandemia começa a receber doses de vacina, completa-se a ordenação das anotações e o mundo, mais uma vez!, exibe robustez de combatente heroico contra os males da civilização, enfim! salva. Resta, agora, decidir como e quando retornar ao club de entretenimento civilizatório, observados os protocolos fixados pelas práticas consuetudinárias. O que se deve dizer na sociedade para ser taxado de cidadão conveniente e amável mas não tachado de desabusado, para quem todas as crenças são iguais, todas as negações, todas as atitudes. A opção mais popular consiste em saborear pratalhazes de ambrosia, à maneira de Miconos, ainda que o cidadão só tenha direito a ingresso no piscinão de Ramos, que outrora, mais extenso, atendia por Maria Angu, vetusta praia do palácio de São Cristóvão, atual museu incinerado.