Neste livro, que Gilberto Mendonça Teles nos oferece em ato generoso e corajoso, há muito mais que uma centena de oportunidades de perceber nas conversas mantidas entre 1956 e 1992 esse jogo de bate e rebate — ou de pingue-pongue, como se costuma chamar no jargão jornalístico. Discorrendo sobre a poesia brasileira e a obra de grandes mestres — alguns deles seus amigos próximos, como Carlos Drummond de Andrade — ou falando de vanguardas, vida universitária, ambientes literários variados, seus posicionamentos nunca são lacônicos ou vazios de conteúdo. Suas opiniões baseiam-se em argumentos sólidos, em elementos consistentes, em visões de mundo muitas vezes surpreendentes e em uma coerência estética a toda prova. Desde as primeiras entrevistas, concedidas em um momento muito específico da literatura brasileira (com especial ênfase na poesia) em meados dos anos 1950, Gilberto disserta com segurança sobre novos movimentos na área, outros estilos e autores. Quando aborda mudanças no regime político nacional — uma de suas entrevistas para o jornal O Popular, de Goiânia, em abril de 1964, foi, de alguma forma, confiscada, mas está aqui, recuperada em rascunho —, é específico nas críticas e nas análises, o que as torna ainda mais válidas. A presente reunião do primeiro volume das entrevistas de Gilberto Mendonça Teles é uma primorosa contribuição não só para compreender a trajetória do autor e do intelectual, mas os meios em que transitou, os contextos em que produziu, os ambientes em que viveu, fornecendo, assim, uma quantidade de informações e registros muito maior do que se pode desconfiar a princípio. O próprio jornalismo é beneficiado, uma vez que os formatos de entrevistas, a condução das conversas e os estilos textuais empregados montam uma cronologia de como a imprensa lidou com os assuntos evocados nas conversas com Gilberto. Nas entrevistas aqui reunidas, portanto, temos mais que diálogos possíveis; temos conversas necessárias.