Memórias da casa dos mortos narra em forma de romance um dos períodos mais difíceis da vida de Dostoiévski (1821-1881): os anos em que passou na prisão. Em 1849, ele foi condenado à morte por debater ideias 'revolucionárias'. Porém, minutos antes do fuzilamento, sua pena acabou sendo comutada por quatro anos de prisão e trabalho forçado na Sibéria. Essa fase, de 1850 a 1854, deixaria marcas profundas no escritor, que transformou a dor do confinamento neste livro. Publicada em capítulos entre 1860 e 1862 na revista Mundo Russo, a obra beira o relato documental, já que foi construída a partir das anotações que o escritor fez às escondidas, dos diálogos que presenciou e também das suas próprias impressões. Por meio do personagem de Alieksandr Pietróvitch, assassino confesso da própria mulher, Dostoiévski constrói um brutal e minucioso relato do dia-a-dia dos prisioneiros. Aqui, o grande autor perscruta a fundo a alma de cada um deles, revelando o sofrimento físico e mental do cárcere e a progressiva e total anulação da individualidade, sem deixar de lado a crítica a um sistema que fomenta o ódio e que não se preocupa em recuperar os cidadãos para a sociedade. Memórias da casa dos mortos foi um êxito na época do seu lançamento e abriu uma nova fase na carreira do autor, que nunca se recobrou de ficar frente a frente com o terror e de conviver com homens que não diferenciavam o bem e o mal. É deste enfrentamento que emergem sua grandes obras literárias.