Memórias de um médico do interior reúne crônicas de casos médicos passados na época em que uma doença como a difteria podia matar e o diagnóstico era feito exclusivamente pelo conhecimento clínico, sem o apoio de exames. Ao falar desses casos, com adramaticidade exigida pela situação, o médico Francisco Karam mostra também o ambiente e ressalta personagens marcantes, formando um painel da vida em uma cidadezinha do interior do Brasil na década de 1940. Por esse Brasil afora, na primeira metade do século, médicos recém-formados embrenharam-se pelo interior, em regiões pouco povoadas, habitadas por colonos que resolviam seus problemas de saúde recorrendo principalmente a soluções caseiras. A medicina baseada na ciência engatinhava ainda, dividindo espaço com crendices, hábitos e costumes de cada lugar e de cada casa. O médico que chegava acabava sendo a ponta de lança da sociedade que pretendia se fundamentar na ciência e na tecnologia. Ele trazia conhecimento científico para resolver os problemas de saúde e, no seu entorno, aos poucos, ia surgindo a civilização possível à época. Assim foi em Arroio Trinta, no meio-oeste de Santa Catarina: Francisco Karam incentivou a comunidade a construir um hospital como forma de ter mais recursos para o tratamento dos doentes. Depois participou da movimentação da cidade para levar energia elétrica ao município e, dessa forma, criar condições para que houvesse mais equipamento no hospital.