Em companhia de uma tia e do avô, Fernando Frochtengarten viaja com destino às cidades polonesas onde este seu mais velho companheiro e a avó viveram até serem deportados, cinquenta anos antes, para campos de concentração nazistas na Segunda Guerra. Através da reconstrução dessa jornada e de autobiografias narradas por seus avós e três de suas amigas, igualmente judias polonesas vitimadas pelo nazismo, o autor examina o fenômeno do desenraizamento e sua dimensão psicológica, a ruptura biográfica. Sob uma perspectiva da psicologia social, aborda as marcas impressas pela Schoá sobre a comunicação de suas vítimas com o passado, ao mesmo tempo em que busca elaborar sua própria experiência de descendência e convivência com alguns sobreviventes. Por meio de um texto disciplinado, por critérios críticos e científicos, no entanto acessível ao público em geral, Fernando Frochtengarten costura as tramas de uma psicologia da resistência, urgente na realidade contemporânea. Não obstante, Memórias de Vida, Memórias de Guerra é, por certo, uma investigação eticamente comprometida com as experiências e as necessidades psicossociais, políticas e culturais de vítimas da Schoá e de seus descendentes. E precisamente pela conjunção da análise dos fatos e do compromisso com suas lições abre-se, neste livro, um horizonte de percepção e conhecimento para todos aqueles que experimentam habitar um mundo sobre o qual paira a ameaça do desenraizamento. E que buscam compreender alguns de seus remédios.