A produção intelectual sobre o órgão sexual masculino é robusta. O pênis já foi tema de teses, artigos, tratados e todo o tipo de publicação. Agora, pela primeira vez, ele ganha voz. Isso mesmo. Em Memórias do Pinto, o próprio falo narra a sua saga.Com um texto clássico, envolvente, longe do vulgar, Rodrigo Murat descreve o mundo sob a perspectiva de um pinto. A narrativa em primeira pessoa (ou parte dela...) empresta à história nuances absolutamente inusitadas. O Prepucinho do jovem Davi, filho de Sara e Isaac Camemberg, resgata suas experiências desde a mais tenra infância até o momento derradeiro. Falo judeu, enfrenta logo cedo o primeiro trauma: a circuncisão. Sem a pele envolvente, tendo de encarar o mundo de frente, o pinto vive intensamente cada momento da sua vida. Entre passagens incríveis como as ereções matinais e o primeiro beijo, o pobre prepúcio também vive experiências desagradáveis como as comparações de tamanho, as ejaculações precoces, infestação de chatos, o sufocodos preservativos e outros tropeços. As conversas do narrador com seus companheiros de outros 'sócios' - como os órgãos tratam seus donos - estão entre os melhores momentos da obra. Um clitóris marxista-leninista, por exemplo, tenta organizar uma paralisação geral em protesto contra as diferenças no organismo. O primeiro romance da Jaboticaba convida seus leitores a uma nova perspectiva de mundo, cheia de irreverência e bom humor. 'Memórias do Pinto' prova que também há vida inteligente abaixo da linha da cintura.