— De uns tempos para cá, a palavra “mestiço” praticamente sumiu do mapa.
Desapareceu das salas de aula e de seminários acadêmicos, dos discursos das elites
midiática e empresarial, das páginas de jornais, revistas e livros de história,
antropologia, sociologia, estética e política que falam do Brasil e das coisas brasileiras.
O que significa que os pretensos cronistas, repórteres, estudiosos e “intérpretes” do
nosso país há tempo não olham para ele, para as pessoas que circulam em nossos
espaços públicos e domésticos, nem para si mesmos. Falam do Brasil como se
estivessem falando de outro lugar, desde que — por uma imposição acadêmico-
ideológica norte-americana, reproduzida pela universidade e a classe dominante
brasileiras — decidiram fechar os olhos à história biológica, social e cultural de nossa
gente. É impossível, sob pena de falsificação grosseira, tratar da configuração histórico-social
do Brasil sem tratar da grande mestiçagem popular brasileira. Como diz o filósofo Roberto
Mangabeira Unger no texto de apresentação, este novo livro de Risério “é, ao mesmo tempo,
uma análise do papel da mestiçagem na formação do povo brasileiro e uma defesa do Brasil
contra tentativas de falsificar nossa realidade social e racial e desorientar a nação. (...) Separar
injustiça racial de opressão de classe no Brasil jamais fará sentido e só pode resultar em
políticas que acrescentam à realidade da subjugação o veneno das fantasias raciais”.