Gênero sincrético feito de história, literatura e jornalismo, a biografia hoje goza em todo mundo de enorme e crescente favor do público leitor. Mas é um gênero que custa muito caro: o biógrafo precisa passar muitos anos coletando depoimentos, escarafunchando arquivos, viajando. Entrementes, o remédio é colher o depoimento de uma ou outra pessoa que conheceu personagem histórica importante. Isso o que fez o competente jornalista Kenny Braga, ao passar muitos dias colhendo o depoimento de Manoel Soares Leães sobre João Goulart. Contribui assim Kenny Braga, através deste livro, com um subsídio importante para uma futura biografia do presidente João Goulart. Nestes depoimentos, prestados nas numerosas entrevistas que prestou a Kenny Braga, Maneco relata os muitos lances dramáticos que testemunhou na vida política e pessoal do presidente. As revelações são especialmente dramáticas quanto aos últimos dias do seu governo: o dia em que começou o golpe militar, as viagens do Rio para Brasília, desta para Porto Alegre e afinal a de São Borja para Montevidéu. Contam, depois, Maneco como viveu Jango no exílio, primeiro no Uruguai e finalmente na Argentina, onde morreu sem realizar o ardente sonho de regressar ao Brasil e contribuir para a redemocratização do país. Mostra Maneco que Jango não cogitava nem, de longe, recuperar o poder, ou sequer desempenhar um papel político de destaque. Simplesmente queria contribuir para que os brasileiros reconquistassem suas liberdades. Brasil. Maneco dá um testemunho tocante sobre esta enfermidade cívica de Jango. O papel histórico de Jango ainda está por ser recuperado: em essência, o de um estadista obcecado por um projeto de desenvolvimento econômico e justiça social para o Brasil. Homem rico, não se conformava com a pornográfica miséria reinante no seu país. O relato de Maneco dá fé do momento de grandeza de Jango, na noite de 31 de março para 1º de abril de 1964, quando os golpistas propuseram-lhe a permanência no poder, à condição de desencadear uma repressão contra as forças progressistas e democráticas. Jango preferiu ser deposto. O livro de Kenny Braga passa a ser uma fonte importante para a compreensão do drama brasileiro que começou em 31 de março e se prolongou por mais de vinte anos. Confira a fanpage da Editora Sulina