“Vocês só vão ter uma história [...]. Vocês vão escrever essa única história de muitas maneiras. Nunca se preocupem com a história. Vocês só têm uma.” O conselho de Sarah Payne, ficcionista e professora de escrita criativa, marca Lucy Barton em sua busca por uma voz literária no começo da carreira. Hoje autora bem-sucedida e narradora deste romance, Lucy está há três semanas num hospital com vista para o edifício Chrysler, em Nova York, se recuperando das complicações de uma simples operação para extrair o apêndice. Sofrendo de saudade das filhas e do marido, ela recebe uma visita inesperada da mãe, com quem não falava havia anos. Mas o que se segue durante as cinco noites em que as duas ficam juntas não são longas discussões de relacionamento ou uma reconciliação verbal. Estimulada pelo exercício da memória, a narradora convalescente lança um olhar aguçado e humano, sem sentimentalismos, para os acontecimentos centrais de sua vida: o isolamento e a pobreza dos anos da infância, o distanciamento de um núcleo afetivo desestruturado, a luta para se tornar escritora, o casamento e a maternidade. Enquanto isso, Lucy ouve episódios envolvendo amigos, familiares e conhecidos que povoaram sua juventude em um vilarejo rural de Illinois e vê a intimidade com sua mãe se reinventar entre gargalhadas e silêncios. “Mamãe, você me ama?”, a menina do passado pergunta no presente. “Quando os seus olhos estão fechados”, é a resposta de quem nunca foi perfeita e nem poderá ser em seu amor, e talvez seja essa a única história possível para Lucy Barton. Excelente ficcionista, atenta às relações humanas e aos momentos mais prosaicos de epifania e de revelação, Elizabeth Strout ilumina a relação primordial, ao mesmo tempo conflitiva e afetuosa entre mãe e filha.