Uma narrativa centrada na relação música e tempo – a música do tempo.
O terceiro romance de Mauricio Salles Vasconcelos desenvolve, em 3 partes, um conjunto fabulativo que investiga o presente milênio, as mediações tecnológicas de som e o "coletivo" em diferentes espaços brasileiros.
Ao tomar o grupo Animal Collective como exemplo-chave da sonoridade dos anos 2000, o livro incursiona por esferas de sentido relacionadas à sintonia/sinfonia da música que está tocando agora. Tem em foco o enlace com uma época tão tecnificada quanto orbitada por promessas globalizadoras de celebração, para além de um pacto consensual, meramente econômico, de partilha e pertença.
A indagação de Godard, em Salve-se quem puder (a vida) – que música é essa que está tocando? –, pode ser traduzida por Meu Rádio (Coletivo Animal) como a busca dos rastros de musicalidade deixados por cápsulas e compactos de transmissão/arquivamento.
A banda Animal Collective desponta como um signo mobilizador das possibilidades de existir música no instante irrepetível dessa hora. Viabiliza, também, a especulação acerca da aventura de haver mundo e a reinvenção do livro em era high tech, implicado, enfim, com a fábula da vida imediata. A questão incita os vários personagens de Meu Rádio: “onde está a música?”, quer dizer (e saber), “onde pulsa a música (o tempo)?”