“Abri meus olhos e vi milhares de barcos que avançavam rápidos por sobre as ondas, milhares de aviões que voavam rápidos pelo céu e milhares de homens que apontavam e engatilhavam suas armas diretamente para mim. Olhei para o lado e vi os olhos azuis e cheios de medo do soldado que estava ao meu lado, e ele também olhava para os mesmos barcos cada vez mais próximos, para os aviões cada vez mais baixos e velozes, para todos os homens que avançavam na nossa direção cheios de vontade e fúria, prontos para nos destruir, prontos para nos anular, prontos para nos matar sem ao menos olhar nos nossos olhos e sentirem todo o nosso medo, a nossa angústia e o nosso desespero que aumentava lentamente, a cada avanço de tudo que nos cercava, fosse humano ou não. E nesse momento, cerca de dez ou quinze segundos depois que abri os olhos e vi tudo que estava ao meu redor, apenas seres humanos para destruição e máquinas de destruição, que o soldado ao meu lado começou a atirar com o seu rifle sobre os barcos que se aproximavam, sobre os barcos que deslizavam carregando os soldados vindos de terras que jamais conheceríamos e nem queríamos conhecer, soldados que deslizavam para a sua morte e para a sua destruição sem ao menos pensar em fugir, soldados que não sentiam medo e que, caso sentissem algo além disso, não teriam nem mesmo tempo para sentir medo, sentiriam apenas a bala que atingiria alguma parte do seu corpo, da sua cabeça, do seu braço, da sua perna e logo depois começaria a sangrar sobre a água suja e morta do mar coberto de barcos próximos e distantes, milhares de barcos que avançavam na nossa direção para nos destruir e avançar sobre a costa que protegíamos”.