Pensamentos que compõem reflexões construídas no passado fazem-se pensamento vivo quando se prestam a reflexões no presente. E assim que as filosofias historicamente elaboradas, pertencentes que são ao próprio tempo no qual se circunscreveram, permanecem válidas para a atualidade, qualquer atualidade, inclusive a nossa. Assim, um pensamento é vivo quando capaz de mover-se no tempo e mover outros tempos; quando provoca desdobramentos a partir dele e para além dele, em pensamentos novos; quando seus desdobramentos são palpáveis em práticas concretas. O legado de Michel Foucault, seus escritos e seus ditos, cumpre há mais de cinquenta anos as características de um pensamento vivo. Com uma peculiaridade, porém. É que além de gerar outros pensamentos e outras práticas, seu próprio pensamento vem se desdobrando a si mesmo na medida da inesperada proliferação e divulgação de trabalhos que foram realizados pelo próprio autor mas que permaneceram até recentemente pouco ou nada conhecidos. Este movimento do pensamento vem se fazendo em sucessivos conjuntos de publicações. O primeiro conjunto, é claro, são os numerosos livros publicados durante a vida de Foucault. Em seguida, dez anos após sua morte, a publicação, em quatro volumosos tomos, de trabalhos diversos pronunciados (ditos) e redigidos (escritos) ao longo de sua trajetória e em diferentes contextos, precisamente sob o título Dits et écrits. Segue-se a edição gradativa dos treze Cursos ministrados no Collège de France. E quando tudo parecia já estar dito e escrito, um instigante conjunto de trabalhos quase desconhecidos vem à luz. São publicações novas em sua maioria extraídas das milhares de páginas que compõem os arquivos inéditos -ainda em fase de organização - depositados na Bibliothéque Nationale de France, tais como: artigos, entrevistas, cursos, organizados em diferentes coleções (como, por exemplo, a coleção Philosophie du présent); edições posteriores de Cursos (como Mal faire, dire vrai e Cours sur la sexuali