Para Foucault o poder é a guerra. Sua hipótese é que no interior da paz civil os enfrentamentos do poder, pelo poder, para o poder e com o poder, assim como as transformações das relações de força, têm uma solução de continuidade belicosa, fazendo com que as engrenagens de exercícios do poder político sejam dinamizadas como guerra continuada. Na esteira dessas análises acerca da guerra entendida como contínua reposição do exercício do poder político, situa-se um ponto de inflexão no desenvolvimento investigativo de Foucault, uma vez que o conceito de governamentalidade intervém e se inscreve na abertura do espaço delineado pela biopolítica, de tal maneira que a noção de poder se desliza dando lugar para àquelas ligadas à problemática do governo, numa extensão para a abordagem do Estado como um novo objeto de análise. O (neo) liberalismo surge, nessa genealogia do Estado moderno, como a forma de racionalidade característica dos dispositivos de regulação biopolítica, estendendo-se para os processos de gestão biossociológicos das massas humanas, o que envolve o aparelho estatal com a complexidade de seus órgãos de centralização e coordenação, de modo que o biopoder se apresenta como vetor de biorregulação do Estado, como condição de inteligibilidade do funcionamento e das práticas biopolíticas com seus esquemas de saber-poder como estratégias de contínua guerra que se desdobra em defesa da sociedade erigida na lógica do mercado e do empresariamento dos sujeitos.