Em 2013, o presidente da Câmara Muncipal de Oeiras foi preso na sequência de um processo polémico relacionado com fraude fiscal. Metade do País aplaudiu a detenção deste homem poderoso, ex-ministro e ex-militante de topo do PSD, vendo-a como um claro exemplo de independência da Justiça; mas a outra metade indignou-se pela humilhação inflingida a um dos autarcas mais competentes de Portugal, de um líder com obra feita, relacionando a sua condenação com perseguição política. Isaltino Morais ficaria preso uns longos 429 dias. Habitou a cela colectiva 407 da Carregueira, numa ala onde todos os presos eram mais novos e cumpriam penas maiores do que ele. De resto, entre os 750 homens que constituiam a população prisional, o autarca era o único condenado por fraude fiscal, em contraste com o grande número de violadores, pedófilose homicidas. Tratado por Presidente ou Tio Isaltino, cruzou-se diversas vezes nos corredores e no pátio da prisão com Vale e Azevedo, Carlos Cruz ou Ferreira Diniz. Assistiu à morte de um companheiro de cela por falta de intervenção médica, testemunhou numerosas cenas de violência, foi sujeito a revistas todo nu nas rusgas em busca de droga e telemóveis e sentiu as adversidades da cadeia duplicarem com as sucessivas greves dos guardas. O recluso n.º 721 deu-se bem com todo o tipo de homens e até fez amigos, como o muçulmano a quem ofereceu secretos de porco inadvertidamente. Provou aguardente clandestina, encontrou consolo nas centenas de cartas que recebeu e ansiou pelo momento das visitas da família, sobretudo as do filho Afonso, de 11 anos. Enquanto isso, tornou-se vegetariano por necessidade, percorreu quilómetros em círculos para cansar o corpo e vencer as insónias. Refugiou-se na fé, na contemplação da natureza e nas raras boas notícias que lhe foram chegando. Foi atrás das grades que assistiu à vitória eleitorial do movimento político com o seu nome e que escreveu um extenso diário, do qual ressalta a desumanidade da prisão e os sentimentos