Em 'Os Miseráveis' o enfoque do autor é para as instituições políticas e sociais. Como todos os personagens centrais de Hugo em sua famosa trilogia (Nossa Senhora de Paris, Os Miseráveis e Os Trabalhadores do Mar), Jean Vayean (como o grotesco e sublime Quasímodo e o abnegado Gilliatt) é um paradigma cristão do homem. Mas diferentemente daqueles dois, não se limita a amar uma mulher senão toda a humanidade.. Vayean é forte de corpo e espírito, terno, humilde, sensível, caridoso e piedoso. Sua vida de fugitivo constante, com o sabujo encarniçado e orgulhoso Javert no seu enlaço (Javert representa a autoridade e o poder civis), é um festival de solidariedade humana e combate às injustiças sociais geradas pelo próprio sistema. Percebe-se que as instituições sociais não elevam e sequer prestigiam os homens verdadeiramente bons, condenando-os sim ao sacrifício. Os Miseráveis é um romance grandioso no estilo narrativo e descritivo de Hugo, que esbanja a elegância, a riqueza e o fausto do barroco. Mas o romântico Hugo transcende os floreios da linguagem recheando essa estrutura estilística de um conteúdo rico e psicologicamente profundo; os movimentos dramáticos da alma humana sacudida por um turbilhão de anseios, sentimentos e emoções. É também grandioso pelos personagens intensos e extremados, figuras humanas que como Jean Vayean e o próprio policial Javert, perseverante, obstinado e frio, vivem sob a égide inabalável de princípios e ideais, a ponto de serem quase que sufocados pelas conseqüências emocionais de seus próprios atos.