Há muito mais sobre a história em A miséria da historiografia: uma crítica ao revisionismo contemporâneo do que sonharia uma vã leitura do seu título. Embora a maioria dos capítulos verse sobre temas ligados à história da sociedade brasileira sob o regime ditatorial pós-1964, a proposta do livro e a abordagem efetivamente adotada pelos autores situam o leitor no plano da história universal. O que ressalta do conjunto de estudos contidos neste livro é a problemática da revolução, excomungada por um ponderável setor da historiografia internacional. Objeto de uma operação contrarrevolucionária que procura erradicá-la dos programas de pesquisa, a revolução sofre, também, a ação mistificadora de interpretações que, para justificar ideologicamente a ordem capitalista atualizada a partir da década de 1980, processa a revisão de pontos de vista comprometidos com a explicação do processo histórico a partir da luta de classes. O revisionismo atacado no livro – é importante observar – não se confunde com a necessária e legítima operação de constante reavaliação do conhecimento disponível, em cotejo com novas fontes, objetos e problemáticas impostos pelo movimento das sociedades. Ao contrário, mira os artifícios que se adotam para obstar o avanço do conhecimento, negando a validade heurística a conceitos associados à luta de classes e propondo substituí-los por outros, voltados para a descaracterização da natureza classista das sociedades.