Missoula, em Montana, é uma típica cidade universitária americana, com uma conceituada faculdade, paisagens bucólicas e vida noturna agitada. Para quem vê de fora, o cenário é algo idílico. No entanto, entre 2008 e 2012, o departamento de justiça americano investigou 350 acusações de agressão sexual na cidade. Poucos desses casos, porém, foram tratados com atenção pelas autoridades locais. A faculdade, por sua vez, é sede de um importante time de futebol americano do circuito universitário, os Grizzlies, cujos jogadores são idolatrados pela população. Não por acaso, grande parte dos acusados de violência sexual pertencem a esse time. E, não por acaso, os jogadores contam com uma vasta rede de proteção, que vai desde a polícia até os políticos, dos torcedores à imprensa e aos próprios amigos das vítimas, que não raro se voltam contra elas. Ao contrário de crimes como roubo e fraude, em casos de estupro por pessoas de um mesmo círculo social as suspeitas e a culpa costumam recair sobre a vítima, trazendo consequências como isolamento, difamação e ódio. Centenas de denúncias acabam arquivadas, e inúmeras vítimas, caladas. Neste livro assombroso, Jon Krakauer, autor de No ar rarefeito, rompe o silêncio e traz a público todo o drama que vivem essas mulheres, em dezenas de entrevistas não só com as vítimas, mas também com os acusados, os investigadores e membros do sistema penal. Numa investigação minuciosa, com ares de thriller jurídico, ele revela não apenas essas histórias carregadas de tristeza, como todo o tecido social e político que se coloca em ação para abafar os casos. Num trabalho de coragem, o autor questiona o sistema educacional e os caminhos legais que permitem essa verdadeira epidemia de violência sexual.