'Um Místico Brasileiro - Vida e Milagres de Antonio Conselheiro' traz a história de um dos principais mitos da literatura brasileira, Antônio Conselheiro, contada no início do século XX por um europeu que nasceu em Londres e morreu em Buenos Aires. Robert B. Cunninghame Graham viajou pela América do Sul e, ao passar pelo Brasil nos anos 1910, inteirou-se do episódio de Canudos, ocorrido há cerca de vinte anos. O fascínio que o episódio exerceu sobre ele foi a mola propulsora para que começasse a escrever. Seu livro segue muito de perto 'Os Sertões', de Euclides da Cunha: detém-se na vida de Antônio Maciel, desde suas origens até sua aparição como Conselheiro, sua atuação, sua morte e a destruição de Canudos, cenário dessa história. Para tanto, sua fonte já não é somente a terceira parte d’'Os Sertões', "A luta", mas artigos publicados nos Anais da Biblioteca Nacional e livros de História do Brasil, de autores brasileiros e estrangeiros. Por seu relato e seus referenciais, fica evidente o olhar exótico diante do país tropical, a linha de pensamento naturalista e às vezes preconceituosa com relação aos mestiços e descendentes de negros e índios. Ao descrever com detalhes o fanatismo dos jagunços, sua luta contra as expedições do governo fracassadas e a chacina, parece tentar ao mesmo tempo entender e explicar o fenômeno que até hoje ainda tem perguntas sem respostas, cujos estudos trazem sempre novas revelações. Surpreende que Cunninghame Graham tenha se debruçado sobre este tema com tanta antecipação. A primeira edição de seu livro foi publicada em 1920 - muito anterior portanto à primeira publicação de 'Os Sertões' em língua estrangeira - que data de 1938, na Argentina -, e à primeira edição em inglês, publicada pela University Chicago Press, em 1943. Um místico brasileiro não é um ensaio sobre 'Os Sertões', nem um estudo sobre Euclides da Cunha, mas o recontar da vida e dos milagres de Antônio Conselheiro para um público europeu que a desconhecia.