Mojubá, primeiro romance do poeta, escritor e crítico literário Claudio Daniel, é ambientado na cidade de Salvador, marcada pelos graves problemas políticos e sociais da atualidade, como a intolerância religiosa, o racismo, a homofobia, a misoginia, o neofascismo e a violência policial contra jovens negros dos bairros de periferia e outros setores discriminados da sociedade brasileira. Os personagens do romance são os orixás da tradição religiosa afrobrasileira, representados como advogado (Xangô), serralheiro (Ogum), dançarina (Iansã) e secretária (Oxum), e a narração é feita em primeira pessoa, por João Mojubá, que é ninguém menos que o orixá Exu. As peripécias centrais da narrativa deste romance - ou rapsódia, como disse Mário de Andrade a respeito de Macunaíma - parodiam as histórias orais da tradição iorubá (ou itãs), apresentadas em situações contemporâneas, numa linguagem híbrida, que mescla os recursos da prosa com os da poesia - no caso, os orikis, ou poemas cantados de origem iorubá, que até hoje são cantados nos terreiros de candomblé. A narrativa principal de Mojubá é mesclada a várias outras pequenas histórias, nas quais são contadas a origem, atributos e ações mais conhecidas de cada orixá, ambientadas nos dias de hoje, envolvendo ainda a questão ambiental, as crises de saúde pública e outros temas do Brasil contemporâneo. Amor, preconceito, violência, denúncia social e cultura popular são alguns ingredientes desta obra, que apresenta ainda momentos de humor e irreverência, em meio à tragédia em curso no país.