O HARÉM PESSOAL DE BUKOWSKI “– Hank – disse ela –, fique comigo! Não volte pra ela! Olhe, eu tenho belas pernas! Dee Dee levantou uma perna pra me mostrar. – Eu tenho belas canelas também! Olhe! Me mostrou as canelas. Eu estava sentado na beira da cama. – Não posso ficar com você, Dee Dee... Ela sentou na cama e começou a me esmurrar. Seus punhos eram duros como pedras. Me esmurrava com as duas mãos. Fiquei ali sentado, levando porradas. Me acertou na sobrancelha, no olho, na testa e nas faces. Até na garganta eu levei porrada. – Ah, seu filho da puta! Filho da puta! Filho da puta! Filho da puta! TE ODEIO! Agarrei seus pulsos. – Tá legal, Dee Dee, agora chega. Ela caiu pra trás na cama; eu levantei e saí pelo corredor e porta afora.” (Trecho de Mulheres) “Eu tinha cinquenta anos e há quatro não ia pra cama com nenhuma mulher.” Este é Henry Chinaski, Hank, escritor, alcoólatra, amante de música clássica, alter ego de Charles Bukowski (1920-1994) e protagonista de Mulheres. Mas este não é um livro convencional – nem poderia ser, em se tratando de Bukowski – no qual um homem está à procura de seu verdadeiro amor. Após um período de jejum sexual, sem desejar mulher alguma, Hank conhece Lydia – e April, Lilly, Dee Dee, Mindy, Hilda, Cassie, Sara, Valerie, não importa o nome que ela tenha. Hank entra na vida dessas mulheres, bagunça suas almas, rompe corações, as enlouquece, as faz sofrer. E no fim elas ainda o consideram um bom sujeito. Publicado em 1978, Mulheres, o terceiro romance de Bukowski, é a essência de sua literatura: com o velho Chinaski, ele sintetiza a alma de todos aqueles que se sentem à margem. Escrevendo em prosa, Bukowski faz poesia com a dureza da vida e nos dá uma pista: “ficção é a vida melhorada”.