Ainda um dos filmes de maior sucesso de público, crítica e bilheteria já realizados na Espanha, 'Mulheres à beira de um ataque de nervos', de 1988, uma das obras-primas de Pedro Almodóvar, é o apaixonado objeto de estudo deste ensaio de Peter William Evans. Mais do que dissecar apenas um filme, porém, Evans também usa o longa-metragem como obra-chave para discutir, de forma abrangente e profunda, toda a produção do cineasta espanhol. Como todas as produções assinadas pelo irreverente diretor, filho dileto da contestadora "Movida" de Madri - movimento de jovens artistas que sacudiu culturalmente a Espanha recém-libertada da ditadura franquista -, 'Mulheres', como mostra Evans, vai além de mais um potente veículo para Almodóvar cutucar, com sua costumeira lente ferina, a moral, os costumes e a estética-padrão da classe média. O enredo do filme, o risível e ao mesmo tempo doloroso romance vivido por Ivan (Fernando Guillén) e Pepa (Carmen Maura, musa eterna do cineasta), famosos atores/dubladores às voltas com família e paixão - binômio caro a Almodóvar - é usado como fio condutor para Evans apontar, numa visão que passa inclusive pela análise psicológica dos personagens, a essência do cinema almodovariano. Através das páginas, o autor localiza 'Mulheres' - o sétimo filme do diretor e aquele que lhe abriu definitivamente as portas do mercado americano - no centro das mais evidentes influências recebidas por Almodóvar, e detecta essas referências ao longo do longa-metragem. Estão lá as lembranças das velhas comédias e musicais hollywoodianos, misturadas ao efeito potente do melodrama espanhol. Está a admiração pelo cinema de Hitchcock (a quem Almodóvar faz homenagens explícitas em pelo menos três cenas). Ali também se evidencia a paixão do cineasta pelas mulheres exuberantes, alegóricas, que se dividem com a mesma intensidade entre a força e as lágrimas - quase sempre ao mesmo tempo, cabe aqui observar.