“O beijo é das melhores coisas desta vida, principalmente quando a entrega a essa troca de movimentos musculares é inteira. Não há redor durante um beijo verdadeiro. Estamos sós, mais nada existe, assim se pára o tempo. Confusões salivares, movimentos musculares, o mais puro de todos os ares que nos confunde a alma como se de uma transfusão espiritual se tratasse. Conspiração interligada, partilha encruzilhada, planetária emoção da transposição de barreiras virtualmente reais, vimos do nada, exactamente o sítio para onde vamos, como se de um ciclo corrupto se tratasse, mas nesta etapa de tão flagrante viagem, são os salpicos de pólen que sobrevivem ao tempo, é o ósculo. És muito mais bonita vista daqui, assim perto de nariz a roçar, peles coladas e pestanas quase enroladas. Lábios enroscados, olhos flamejados, mesmo que encerrados, é uma das formas de voar, como se de liberdade se tratasse. Línguas infiltradas, respirações descoordenadas, mesmo que desafinadas, é assim que uma orquestra celestial se consegue amestrar. É uma prosa poética esse beijo, é o versejo que rima mesmo que não entoe, que harmoniza mesmo que doa, suaviza a luta dos que permanecem em fuga, como se de uma abstracta amálgama de cores se tratasse, não é arte que se descarte, é a mais bonita de todas as formas de arte. É uma prosa poética, esse beijo.”