Artistas modernistas, mecenas, ricos colecionadores e personalidades influentes do establishment paulista são personagens e ilustrações de Nacional estrangeiro, ensaio do professor titular de sociologia da Universidade de São Paulo Sergio Miceli. No livro, fartamente ilustrado com imagens das obras analisadas, o autor amplia a compreensão sobre temas da história cultural, social e política do Brasil no período de formação do modernismo paulistano.Depois do foco sociológico sobre a arte retratista do livro Imagens negociadas - Retratos da elite brasileira (1920-40), publicado em 1996 pela Companhia das Letras, Miceli investiga agora a natureza ao mesmo tempo social e estética das obras de Anita Malfati, Tarsila do Amaral, Lasar Segall e da família de artistas-decoradores da elite, os Gomide-Graz.Numa escrita clara e elegante, que não descuida da análise rigorosa, o autor refaz a gênese e os bastidores da produção modernista com um olho nas necessidades estéticas e outro nas circunstâncias sociais, como as vicissitudes locais de um mercado de artes em formação, a prática das encomendas oficiais e privadas, o mecenato e as subvenções.Valendo-se da metodologia do francês Pierre Bourdieu, Miceli centra sua análise nos círculos requintados de sociabilidade que envolviam artistas, mecenas, colecionadores, políticos e medalhões da economia agro-exportadora num "cipoal de interações", feito de matrimônios acertados, favores no governo da província de São Paulo, reuniões elegantes na famosa Villa Kyrial, encontros e desencontros afetivos, além de viagens e temporadas em Paris.