Em Nada a dizer, Marcelo Sahea leva a palavra até a dimensão de um signo da interioridade. É como se elas, as palavras, estivessem em busca de sua própria realidade e praticassem um discurso autônomo sobre a vida do corpo. Em Nada a dizer há uma tensão permanente entre a vida do corpo e a vida das palavras e essa tensão é mediada por objetos deslocados de sua função e resignificados pela lógica da poesia como em Joan Brossa. Sahea opta pela construção de uma comicidade do indizível (quase escrevo cosmicidade do indizível). As duas frases como em uma dialética negativa servem para descrever seu trabalho com os objetos. Ele utiliza recursos de construção dos poetas concretos, mas bebe na fonte do Finnegans Wake de Joyce (um Finnegans Wake reescrito por Groucho Marx). O que interessa a Sahea é a criação de significados carregados de uma sutilíssima crítica ao status neutro e esvaziado que a linguagem adquiriu em nossos dias.