Em límpido enigma que - num hábil jogo entre personagem, narrador e autor - mantém esta obra suspensa em seu acontecimento: "Não. Nunca. Não serei escritor", lemos a certa altura. "Não sou escritor. Que haja um livro. Não sou escritor. Recuso-me a sê-lo. Por que deveria ser? Escrevo sim - e basta. Por que eu teria de ser um escritor, um autor de livros? Não quero ser autor de nada. Quero só escrever."A prosa clara deste médico-filósofo pode extraviar algum leitor mais apressado. Contudo, como diz o romancista (e doutor em Letras) Gustavo Bernardo, "...o leitor não se iluda. Este não é um livro surrealista; trata-se de um livro realista sobre a incomensurabilidade da realidade. ... Deixando sob suspeita os limites do real, ainda se fragilizam os limites do sujeito, no caso específico, do autor, personagem único do livro. Único? Talvez não. O limite da suspeita é o abismo ou, como quer Rios, com esse sobrenome que lembra outro Rio (o Baldo), é o nada." E conclui: "Afirmo, peremptoriamente: o leitor (não se iluda...) tem em mãos, ao contrário do que o subtítulo quer fazer parecer, um livro, sim; e genial." André Rangel Rios, personagem-narrador-autor deste livro, é médico e doutor em filosofia pela Universidade Livre de Berlim. Atualmente lecionando na UERJ, tem publicados os títulos A ilha dos prazeres (romance) e Mediocridade e ironia (ensaios).