Este livro reúne crônicas e receitas culinárias que Nina Horta vem publicando na Folha de S. Paulo desde 1987. Escrito numa prosa viva, saborosa e divertida, de alguém que enfrenta os mesmos problemas dos comuns dos mortais ao entrar numa cozinha, Não é sopa traz um cardápio extremamente variado, para satisfazer aos mais diferentes paladares.Com muita simpatia, a autora revela, por exemplo, como se sente alguém que come sozinho em um restaurante, ou discute temas difíceis, como o que fazer na hora de cuspir o caroço da azeitona. Em páginas engraçadíssimas, fala das delícias da comida perversa, como pastel de feira e torresmo de padaria, com o know-how de quem sabe apreciar o valor da comida de rua (bem-feita, evidentemente). Desfila as implicâncias culinárias de cada um (abobrinha, pepino, frango com catupiry e outras idiossincrasias) e os desastres do café da manhã (para concluir que o dos hotéis é sempre melhor).O livro traz também revelações surpreendentes, como a verdadeira função do uísque na cozinha e a importância das galinhas nos filmes de Hitchcock, e leva-nos para um fantástico simpósio anual em Oxford, onde se discute britanicamente o destino do rabo de carneiro e a maneira de preparar um homem para satisfazer o paladar de antropófagos. No último capítulo comparece a maldita sopa que tanto desesperava a personagem Mafalda das histórias em quadrinhos e que teria sido - revela-nos Nina Horta em primeira mão - a verdadeira causa mortis da infeliz Emma Bovary.As crônicas, forradas de bom senso e recheadas de insights, são quase sempre acompanhadas por receitas que vão do trivial variado e das delícias dos cadernos das avós ao exotismo de pratos indianos ou balineses, sem temer a mistura multicultural. E, ao mesmo tempo, evitam qualquer afetação, pois, como Nina Horta faz questão de sublinhar, "esnoberia em matéria de comida é aberração".