“Sob seu domínio, a perseguição contra a Igreja e seus ministros mudou de semblante, tomando um caráter de astúcia e perfídia que não abandonou até agora. Napoleão não seguiu, pois, o rumo de seus predecessores: não ignorava que em matéria de Religião nada lograria com cadafalsos e tormentas; ademais, tinha muito presente o infrutuoso que havia sido a eclosão dos revolucionários franceses para manchar todo o sinal de Religião na França; e que na persecução que suscitaram contra o clero e contra os fiéis que se mantiveram firmes à sua Religião, só fizeram confirmar, ao pé da letra, esta expressão de um padre da primitiva Igreja: sanguis Martirum, seges christianorum; teve, pois, por conveniente, que adotar meios mais suaves, mas que se dirigiam para o mesmo fim. Começava protestando, em seus discursos, por uma verdadeira adesão à Religião Católica, Apostólica e Romana, e que desde logo se declarava seu defensor. Às indecentes
declamações que os inovadores chamavam de fanatismo, ao menosprezo que estes faziam de todas as instituições religiosas, ao ódio que inspiravam contra os sacerdotes, Napoleão substituiu pelas aparências de doçura, de moderação, de demasiada atenção, para seduzir os incautos: aparentou um respeito hipócrita pela Religião, valendo-se de uma linguagem de política e de estima para com seus ministros; e com esta máscara filosófica inaugurou sua obra infernal”.