Tratar os indígenas como protagonistas e agentes efetivos da construção do Brasil não é uma tarefa simples e suas repercussões ultrapassam largamente questões setorizadas e pontuais. O pesquisador, como se mexesse num castelo de cartas, logo é levado a rever as mais frequentes e consagradas interpretações realizadas sobre eles, bem como as formas de constituição da memória e de uma história nacional. Assim, é imprescindível que questione categorias e práticas derivadas de modelos jurídicos coloniais (ainda bem vivos), explicite pressupostos e crenças subjacentes (raramente conscientes), e busque superar limites disciplinares. Muitas vezes, as consequências de suas ações não apenas não se restringem à temática indígena e aos objetos usualmente abordados pela etnologia e a etno-história, como também implicam o reexame crítico do passado e o reenquadramento comparativo de certos aspectos do mundo contemporâneo. Embasado numa perspectiva etnográfica e dialógica, este novo livro de João Pacheco de Oliveira se vale da antropologia histórica para tecer diálogos entre o mundo colonial e a contemporaneidade, poderes disciplinadores e modos de resistência e formação de alteridades, e as políticas públicas nacionais e a mundialização.