Graziano Costa nos convida a pensar questões que, se no livro são circunscritas ao universo do adolescente, sabemos nós, leitores de todas as idades, o quanto estas nos atravessam como angústia e solitude, porém, mais do que esperar por soluções pragmáticas, mais do que receber um conceito orientador de princípios, o indagador (e o leitor) é provocado, é estimulado a perceber novos caminhos, a se dobrar (flexus, em latim, de onde deriva etimologicamente reflexão) a outros sentidos. As crônicas deste livro são apresentadas em forma de diálogos entre o professor e seus alunos, e em cada conversa se estabelece, a princípio, um embate entre Mestre (aquele que ensina) e Discípulo (aquele que aprende), tais posições não são dicotômicas e excludentes. Antes, o ensinar e o aprender são compostos unidos, atados nos paradoxos próprios da razão, geridos por questionamentos que colocam em suspensão o próprio ato do saber. O autor, por outro lado, prefere deixar ressoar, com amplitude e contraparte, a voz do aluno e suas aflições, seus medos, seus desejos que, ao serem revelados pelo discurso direto e espontâneo, marcam os sentimentos e os apelos de todos nós. Talvez seja por isso que Na navalha do apontador as alusões a filósofos – com exceção de “Teimosia” – aparecem de modo sutil, indicativo, sem a pretensão de marcar um juízo de verdade, uma utopia de linguagem que definia o pensar e o agir. Epicuro, Schopenhauer, Nietzsche, Camus, Sartre... são murmúrios que aparecem para expressar outros caminhos, para se discutir outras dimensões. A filosofia neste livro, assim, ilumina o momento, o dito e o não dito da dialogação e faz da angústia e solitude simplesmente algo que também “Chama-se vida”.