Janete Fernandes Suzart é uma educadora sensível, comprometida com a vida. Seus movimentos de luta, combate e resistência possibilitaram a materialização dos saberes negros ancestrais, adquiridos ao longo de sua trajetória de vida que potencializou a efetivação de práticas que intervieram diretamente nos diferentes espaços em que transitou. Suas experiências no campo educacional revelam a sua preocupação política em perpetuar a existência das comunidades negras, pauta central adotada no enfrentamento do racismo. Nesse sentido, foi no aflorar de sua sensibilidade que percebeu no vácuo dos currículos um silêncio desconcertante, em que a ausência de corpos negros ecoa além da morte, um apagamento visível, na negligência dos livros, salas de aula, métodos de ensino e nas práticas educacionais. Consequentemente, é no âmago da necroeducação que repousa um entendimento profundo do impacto da morte (física, simbólica e social), principalmente quando se trata da juventude negra, cujas vidas se evaporam em um sistema que escolhe negar, esquecer e ignorar. Embora saibamos que cada interrupção brutal de potencialidades, sonhos e contribuições poderia enriquecer o tecido social, suas ausências criam lacunas dolorosas, não apenas dentro de suas famílias, mas também nas escolas, universidades e nos espaços de aprendizados, ou seja, amplificando a desigualdade estrutural, alimenta o ciclo de violência e marginalização, e perpetua um ambiente de medo e desconfiança. Nesse percurso, a autora enuncia que essas mortes não são isoladas, mas sintomas de um sistema que submete certas comunidades à criminalização, à falta de oportunidades e à violência policial. Para combater essas realidades devastadoras, propõe que o diagnóstico da necroeducação necessita de estratégias que transcendam o mero reconhecimento do problema, mas não é só lamento, são gritos por mudanças. Por fim, a necroeducação evidencia as experiências negras apagadas; entre os escombros da injustiça, erguem-se estratégias para não morrer — é resistência, é educação como ato de transgressão, nas linhas de bell hooks (2017). É um exercício de reescrever o currículo com tinta carregada de justiça, inserir corpos e vozes que o sistema tenta apagar, é ensinar com coragem a verdade, para que o presente possa projetar um futuro de esperança que inclua a inserção e permanência das populações negras nas diferentes esferas sociais em contextos locais e globais.
João Mouzart de Oliveira Junior
Doutor em Estudos Éticos e Africanos pela UFBA, mestre em Antropologia Social pela UFSE, membro do grupo de pesquisa GERTS, atuante na área de História com ênfase em História da diáspora africana e nos temas sobre as práticas e racismo, irmandades negras, quilombo e educação.