Neste livro, originalmente lançado em 1985, Manuela Carneiro da Cunha realiza uma primorosa análise das trajetórias de ex-escravos africanos e crioulos que saíram do Brasil, reconstituíram suas vidas nos portos do Golfo do Benin e, junto a outros ex-escravizados vindos de Cuba e de Serra Leoa, transformaram-se numa burguesia de mercadores.
Trata-se de tema fascinante que amplia os diálogos entre as duas margens do Atlântico para além das dinâmicas do tráfico de escravos. A história dessas comunidades vem sendo contada há muito tempo e de diferentes formas: desde as menções na obra de Nina Rodrigues e nas reportagens de Gilberto Freyre e Pierre Verger, aos estudos acadêmicos que se multiplicam, bem como nos romances e nos documentários que falam das memórias africanas do nosso passado.
Nesse conjunto, a obra de Manuela Carneiro da Cunha manteve seu vigor, inspirando muitas das interpretações que lhe seguiram. Sublinhou, de um lado, o fato de que a volta à África deveria ser vista menos como um plano idílico de retorno à terra mãe e mais como uma deportação, resultado de uma política imperial que discriminava os libertos. Indicou, de outro lado, os caminhos da pesquisa documental para atingir a complexidade da constituição dos grupos de brasileiros e seu lugar social. E, por fim, salientou a pertinência de se buscarem as intersecções entre os estudos de comunidades e os contextos mais gerais dos avanços do imperialismo na África e o início de sua derrocada.
“O livro de Manuela é um clássico.” - João J. Reis
“Manuela articula problemas políticos e problemas antropológicos com ganhos teóricos extremamente relevantes.” - Lilia Moritz Schwarcz