A notícia atingiu-me como um raio: o meu pai tinha falecido, tinha partido para sempre. Não estava preparada para o que estava a acontecer. Depois da morte da minha mãe, passados dois anos, era o meu pai que me deixava… Sentia que não ia aguentar, que não tinha forças para suportar mais esta perda num tão curto espaço de tempo. Como ia conseguir levantar-me, olhar a vida de frente e arranjar coragem para continuar? Para abraçar as minhas filhas, para apoiar o meu irmão, para continuar a acreditar que a vida ainda merecia ser vivida? Com a morte da minha mãe senti que um pedaço de mim me tinha sido arrancado. Acompanhei a sua doença, mas nunca acreditei que ela pudesse morrer, mesmo quando a vi fraca e cansada. Não estava preparada. Naquela altura pensei que nunca poderia sentir uma dor maior do que aquela. Mas estava enganada… A vida mostrava-me que era possível uma dor mais profunda: a de quem perde o pai e a mãe. Marta Aragão Pinto abre-nos, ao longo destas páginas, as portas do seu coração para nos contar, num tom emotivo, o que sentiu e o drama por que passou ao perder o pai e a mãe. Ser órfã, numa idade adulta, é um tema tabu poucas vezes abordado na nossa sociedade. Os pais que nos deram vida, que nos amaram incondicionalmente, que sempre nos protegeram e apoiaram nos bons e maus momentos… Quando as nossas raízes neste mundo deixam de existir, somos forçados a reaprender a viver. A encontrar a alegria nas memórias, que a custo nos vão preenchendo o vazio que nos fica na alma. A viver com alguém, no céu a olhar por nós.