Este “livrinho”, como escreve com autoironia o autor, surgiu de uma monografia acadêmica sobre a Investigação Filosófica sobre a origem de nossas ideias do sublime e do belo de Edmund Burke. Mas ele é certamente mais que isso: sem se limitar a um comentário focado somente no livro, o estudo reconstitui laboriosamente o que seriam os diálogos implícitos que o escritor irlandês manteve com o mundo filosófico, literário e artístico de seu tempo, para chegar à reformulação original deste que é sabidamente um dos tópoi mais importantes da retórica e poética desde a antiguidade. Na peça assim montada por Daniel Lago Monteiro são muitos os atores coadjuvantes que contracenam com a personagem principal: Addison, Locke, Molineux, Berkeley, Saunderson, Chelseden, Montesquieu, Rousseau, Diderot, mas também Aristóteles, Horácio, Leonardo da Vinci e, naturalmente, Longino se revezam no palco para mostrar as suas afinidades e diferenças com Burke.
A música que acompanha a encenação não fica atrás, composta que é de um repertório clássico revisitado: as antigas vozes do duo entre prazer e dor são dobradas pelas do belo e do sublime, e a crítica nominalista às ideias abstratas vai incorporando novos instrumentos, nos contrapontos sucessivos entre a visão e os demais sentidos, com a libertação da linguagem em relação ao paradigma representativo desaguando no tutti da sinestesia.
O enredo da obra conta a peripécia (no sentido de reviravolta) produzida por Burke na concepção clássica de representação e linguagem. A hegemonia do conhecimento claro e distinto, a fixidez e precisão do modelo geométrico não podiam ser realmente desmontadas pelo empirismo lockiano. Se Berkeley identifica as falsas soluções do perspectivismo renascentista e de seu avatar cartesiano na Nova teoria da visão, a sua resposta cai na armadilha do modelo que combate, ao criar um fosso ainda maior entre a experiência plena dos sentidos e a pura visibilidade. Num movimento que lembra o de Merleau-Ponty, o que Burke