Em Formação econômica do Brasil, escrito em Cambridge e publicado em 1959, Celso Furtado interpretou magistralmente a paradoxal dinâmica de longo prazo do "complexo econômico nordestino". A secular crise do setor açucareiro e a gradativa expansão deuma pecuária extensiva, sujeita à lei dos rendimentos decrescentes, haviam condenado a região a um processo de involução econômica, uma decadência sem transformação. De volta ao Brasil, Furtado compreendeu a urgência de enfrentar o problema. O Sudeste se industrializava, enquanto o Nordeste se consolidava como a grande "área problema" do hemisfério ocidental. Com trajetórias tão divergentes, a própria unidade nacional poderia ser questionada, a longo prazo. Havia uma nova questão regional no Brasil. O assistencialismo e as obras emergenciais contra as secas, que prevaleciam desde o século XIX, precisavam ser substituídos por uma política de reformas estruturais e de estímulo a atividades compatíveis com as especificidades da região. Tratava-se, antes de tudo, de criar uma economia resistente às secas, deslocar a fronteira agrícola na direção de terras mais úmidas, garantir o abastecimento de alimentos das cidades e promover a industrialização. Nem o livre jogo dos mercados nem os órgãos governamentais existentes, controlados pelas oligarquias, dariam conta desses desafios. Era preciso implantar no Nordeste o moderno Estado desenvolvimentista. Seu embrião seria uma nova instituição de elevado nível técnico, preservada de ingerências da pequena política e voltada para o desenvolvimento regional. Ela deveria ser capaz de identificar e selecionar projetos, fixar capitais, ampliar o crédito, criar economias externas, implantar um sistema de incentivos, formar pessoal, realizar pesquisas e apoiar reformas estruturais. Com o apoio político do presidente Juscelino Kubitschek e a liderança intelectual e moral de Celso Furtado, começou a Operação Nordeste, que deu à luz a Sudene. Não foi uma batalha fácil.