Douglas Libby é um dos principais expoentes da escola historiográfica que demonstrou que a propriedade escrava no Brasil não era concentrada, mas pulverizada entre inúmeros pequenos e médios proprietários de cativos, o que fortalecia e legitimava a escravidão entre seus muitos beneficiários. A pedra fundamental da sociedade estudada neste livro era a família, tanto formal como informal, reconhecida e até apoiada por todos entre pobre e ricos, advindos ou não cativeiro. A original e impactante reconstituição de sete gerações de uma família advinda de um casal de africanos minas, expõe trajetória que se entrecruzam, perpassadas por alforrias, posses de cativos, apadrinhamentos, entrelaçando senhores e escravos na pobreza e na riqueza. A densidade da obra de Libby faz dele um historiador para historiadores. Desses cujos trabalhos são sempre aguardados pelos profissionais da área. O leitor, todavia, não deve se assustar com o volume das fontes pesquisadas ou com as tabelas e gráficos, pois a prosa é de fácil leitura, a análise clara e acessível a todos os interessados em entender melhor o Brasil escravista do qual herdamos o nosso modo de ser, e que não pode mais ser pensado a partir da antiga dicotomia senhor- escravo. Marcus J. M. de Carvalho