2014 – 50 anos do Golpe Militar de 1964. "Nos rastros da utopia" (selo Escrituras), de Manoel de Andrade , é a fantástica peregrinação de um poeta brasileiro ao longo de 16 países da América, na década de 1970. Descreve as venturas e desventuras de um caminhante incansável, sua penetrante visão da história, da arte, da literatura, num tempo em que o continente estava incendiado de ideais e suas trincheiras abertas pela saga revolucionária. A obra é uma longa crônica de um viandante, na qual se celebra e se canta, se questiona e se dá o testemunho de uma América ainda desconhecida por muitos brasileiros. Sua peregrinação solitária, os imensos caminhos percorridos e seu canto itinerante levado a tantos rincões do continente constituem um fato único na história de um poeta. Catarinense radicado no Paraná, Manoel de Andrade deixou o Brasil em março de 1969, quando os agentes da Ditadura o procuravam pela panfletagem de seus poemas políticos. Percorreu toda a América Latina e chegou até a Califórnia, levando seu canto libertário aos mais variados recantos da cultura. Seus poemas apareceram em jornais, revistas, publicações acadêmicas, cartazes, opúsculos, folhas soltas e panfletos. Promoveu debates, ministrou palestras e conferências e declamou seus versos em universidades, teatros, galerias de arte, festivais de cultura, congresso de poetas, sindicatos, reuniões públicas, privadas e clandestinas e até no interior das minas de estanho da Bolívia. O livro é um palco onde desfilam cenas dos 500 anos das lutas libertárias do continente, revelando uma América Latina na intimidade cultural de cada país. Nesse longo transcurso conviveu com indígenas, mineiros, estudantes, guerrilheiros e com refugiados de muitas pátrias. Foi amigo de poetas, escritores, jornalistas, cineastas, embaixadores, arquitetos e pintores. Seu primeiro livro, Poemas para a Liberdade, teve sete edições no exterior e, pelo eco dos seus versos, foi expulso da Bolívia, preso e expulso do Peru e da Colômbia, constrangido a fugir precipitadamente de Quito e obrigou-se a destruir seu diário de viagem na Nicarágua.