Não existe vida intelectual verdadeira sem meditação sobre a realidade da morte. Não somente sob o aspecto da brevidade da vida e da fugacidade das vaidades humanas — o que de fato nos põe na justa perspectiva com relação a todos os conhecimentos —, mas porque o centro dela, o nosso eu mais íntimo, e que é o possuidor da sabedoria, não está sujeito ao tempo.
A.-D. Sertillanges publicou o livreto Nos disparus em 1933, e Olavo de Carvalho proferiu a conferência Les plus exclus des exclus em 1997. Ambos os textos, agora reunidos neste volume, pertencem à longa tradição de meditações sobre a morte, o primeiro tratando sobre como devemos encarar a morte dos nossos próximos, amigos e familiares que tenhamos conhecido em carne e osso; o segundo, sobre como devemos ouvir aqueles mortos de toda a humanidade, que não devem ser excluídos do diálogo, pois que, por meio de suas obras, podem ainda falar-nos, e os quais podemos vir a conhecer mais intimamente que muitos vivos, de modo a que se tornem, também eles, nossos mortos.
“Se os mortos têm razão, não convém que os choremos. Mas, apesar da dor, também não devemos lamentar nossa situação. Presentes a si mesmos com mais plenitude, os mortos nos estão presentes com mais eficácia, se o consentirmos. São nossos professores, eles, que veem...” — Sertillanges