Um Macunaíma canibal atravessa séculos e estados brasileiros, deixando-se levar pelos arroubos de cada época enquanto tenta saciar sua fome. Dois gatos tecem críticas à trajetória da dona e especulam sobre o futuro, dentro de um apartamento do qual provavelmente serão despejados. Um rapaz em crise com a própria feiura lê Umberto Eco e estuda para um concurso em Fortaleza. Uma jornalista entrevista um escritor amargurado para entender os Getulinhos, novo fenômeno político do país. No apartamento de sua namorada editora — que sempre dá um jeito de fugir de São Paulo —, um músico rega begônias e jiboias enquanto tenta se haver com uma vizinha barulhenta.
Revisitando a história do Brasil, do período colonial até a recente polarização dos embates políticos, o livro de estreia de Odorico Leal tateia com humor temas sensíveis, em diálogo com a sátira e o farsesco. Enquanto certa nostalgia celebra nossa memória artística, vemos despontar um futuro imaginado e disruptivo que promete um acerto de contas com o passado. Estas novelas e contos dão a ver a habilidade narrativa de Leal, que experimenta os terrenos entre o realismo e o fantástico com gestos originais, atento aos usos e metamorfoses do idioma. Nostalgias canibais é um livro fértil, vertiginoso, que revela um novo talento da literatura brasileira.
«Gostei muito de ler a novela ‘Paraíso canibal’. Uma obra importante, de fôlego, muito bem concebida e composta. Odorico Leal escreve de forma brilhante.» — Rubens Figueiredo