Casa de farinha é uma rara oportunidade de observar João Cabral, hábil engenhoso artesão, em sua oficina de palavras. Diante das anotações do poema, é possível flagrá-lo desde os primeiros esboços, em 1966, até o rascunho incompleto dos primeiros versos, em 1985, portanto 19 anos depois de tê-lo iniciado. Notas sobre uma possível “A casa de farinha” é um poema inacabado de João Cabral de Melo Neto, cujo manuscrito é revelado pela primeira vez para leitores e estudiosos. Escrito na forma de poema longo, o texto não chegou a ser finalizado, mas se encaixa perfeitamente no corpo da obra cabralina ao seguir a mesma linhagem de outros clássicos de sua obra. A cegueira havia impedido o poeta de terminar o trabalho, mas as páginas cuidadosamente guardadas em um fichário escolar traziam os esboços dos diálogos iniciais. Conhecido pela minúcia de sua produção e pela depuração de cada verso, João Cabral escreveu anotações e diversas possibilidades para cada situação desenvolvida. A edição publicada pela Alfaguara traz a reprodução fac-similar das anotações e rascunhos da obra de um dos maiores poetas brasileiros e inclui dois ensaios assinados, respectivamente, pelo poeta e escritor Armando Freitas e pelo jornalista Luís Pimentel, além do prefácio de Inez Cabral, organizadora do volume. Em seu texto, a filha do poeta relata as circunstâncias em que teve acesso ao material e o fato de seu pai ter lhe dado carta branca para uma possível publicação póstuma da obra, se julgasse conveniente.