Escrever com síntese e estilo não é uma arte fácil. No presente livro, coletânea de contos de autores potiguares (ou que possuem laços importantes com o Rio Grande do Norte), o selecionador, organizador e autor das notas, Thiago Jefferson Galdino, traz-nos um muito bem cuidado segundo volume dos Novos Contos Potiguares, confirmando a qualidade da nossa literatura de textos rápidos, precisos, com o sabor e os elementos que todo conto deve possuir. Nas suas “Teses sobre o conto”, texto presente no livro Formas breves (a tradução de José Marcos Mariani de Macedo, para a Companhia das Letras, é de 2004), o célebre escritor argentino Ricardo Piglia nos revela, basicamente, que: 1) “um conto sempre conta duas histórias”; 2) “a história secreta é a chave da forma do conto e de suas variantes”. A duplicidade de cada trama aqui presente, o mistério que só se revela (ou resta evidente nas entrelinhas) e que salta aos olhos no fi nal, tudo isso se expressa nos ótimos textos trazidos para a obra que o leitor tem em mãos. E vem presente, ainda, como uma espécie de bônus, de prêmio especial, a leveza a que se referiu o pensador e escritor Ítalo Calvino em suas Seis propostas para o próximo milênio (trad. Ivo Barroso, 3ª ed., Companhia das Letras, 2006): “A leveza para mim está associada à precisão e à determinação, nunca ao que é vago ou aleatório.” A revelação de algo oculto desde o início de cada história/estória é, não somente técnica para o engendramento de soluções lógicas para a trama, mas é algo que, pela surpresa, constitui a própria essência daquilo que se chama Literatura, que é a de produzir sensações, emoções, impacto artístico e transformador e — em meio à própria inquietude do leitor — até um certo desconforto, que se traduzirá oportunamente em êxtase e prazer da descoberta. Acredito que a presente obra cumpre, em cada uma das suas partes, o papel de fazer surgir a beleza estética e o prazer textual nos contos apresentados, mas também não abandona, em momento algum, a função transgressora das letras literárias, no sentido de que não se deixa imune o leitor do seu dever refl exivo, da sua participação mesma na construção da trama, à medida em que as verdades somente serão trazidas à tona com a contribuição do pensamento do leitor, que escolherá, de uma forma ou de outra, as palavras do seu íntimo a preencherem e darem sentido às tensões e aos enigmas elaborados pelos autores. Em suma, para a obscuridade aparente, reinante no início de cada um desses contos que albergam enigmas lançados, a luz virá das mentes de cada um dos leitores, agora privilegiados por estarem com essa obra coletiva de elevada qualidade em mãos.
Lívio Oliveira
Escritor, membro da Academia Norte-rio-grandense de Letras.