Giorgio Agamben, nos ensaios que compõem Nudez, desdobra um procedimento muito caro a Furio Jesi: o problema da festa, ou melhor, do tempo festivo. O paradigma com que Jesi confronta tal problema é justamente o da máquina mitológica. Agamben sabe que o que é necessário não é destruir a máquina em si, mas a situação que torna as máquinas produtivas; e o risco que se corre nessa possibilidade de destruição é exclusivamente político, pois a “máquina negativa”, escreve Agamben, “produz o nada a partir do nada”, e essa é a política em que vivemos. E, para destruir tal situação, é necessário recuperar a festa do pensamento através da inoperosidade. Porém, a inoperosidade como procedimento não significa, por exemplo, resistência de um corpo ao movimento ou ao repouso. E, nesse sentido, compreendemos melhor a presença de uma reflexão provocada por uma performance da artista Vanessa Beecroft, ou a presença de Kleist, com sua marionete que articula uma zona de não conhecimento em seu corpo: sim, tal articulação requer a presença de um não saber, de algo que nos escapa, como uma dança (aqui, dança entendida como “libertação do corpo de seus movimentos utilitários”). A inoperosidade, portanto, faz as partes inutilizáveis do corpo glorioso dançarem. Em última análise, a potência, na inoperosidade, não está desativada: a inoperosidade coincide, portanto, com a própria festividade, com o “fazer a festa”, ou seja, com o consumir, desativar e tornar inoperosos os gestos, as ações e as obras humanas.Davi Pessoa