Em Nunca juntos mas ao mesmo tempo, Wagner procura dar respostas a estas questões literárias centrais hoje. O autor estabelece a sua (e nossa) delicada relação com Adeline através de uma escrita bilíngue, já que “…o texto foi pensado em português. O francês apareceu como um equivalente digital, nascido dos aplicativos de tradução”. Ao famigerado mundo moderno dos aplicativos de celular e da velocidade das redes sociais, Wagner contrapõe vinhetas fugidias, instantâneos poéticos da vida de Adeline, das suas leituras. Ou seriam quadros, já que a plasticidade de algumas cenas assim o sugere? Como o autor sabe que “o tempo nas ruas desorienta o tempo nos livros”, por vezes se aproxima de Adeline em silêncio, à distância. Na aguda afirmação do escritor e ensaísta Anthony Burgess, o modernismo, em especial o anglo-saxônico, colocou enfim a pessoa comum no centro dos romances. Cerca de um século depois, com as conquistas modernistas já incorporadas ao entretecer literário, Wagner Schwartz sabe que as inquietações formais se movem agora em outras direções, às quais deve apresentar respostas formais inauditas. Nunca juntos mas ao mesmo tempo, que é “traduzido em francês com Béatrice Houplain”, é uma bela experiência de quietude, com claros ecos ‘clariceanos’, especialmente de A Hora da Estrela, em sua busca tartamuda da epifania. A história de Adeline se refugia em sua própria língua, em mais de um sentido. Ao fim do romance, concordamos com a afirmação do autor: “A (história) que eu construo com você se escreve de outras formas. Não quero que meu futuro seja o resumo daquilo que eu tenha lido”.