O conhecimento acumulado pelo Projeto NURC sobre o português brasileiro já permite um mapeamento satisfatório (e, inevitavelmente, sempre incompleto) dos usos reais da língua majoritária da população, mapeamento que pode (ou poderia) muito bem servir de base para uma renovação da educação linguística no país. Os dados do NURC e de outros projetos de investigação dos usos autênticos do português brasileiro nos permitem fazer, com total segurança, uma série de afirmações sobre nossa língua majoritária e suas características gramaticais, muitas das quais distinguem o nosso português não só do português europeu como, em diversos aspectos, das demais línguas do grupo românico. A respeito da atualidade do NURC, é preciso fazer uma observação importante, de caráter histórico e sociocultural. O projeto nasceu em 1969 e suas entrevistas foram realizadas nas décadas seguintes. Passados cinquenta anos, a realidade social, econômica, política e cultural do Brasil sofreu grandes e profundas transformações. Por isso é que o corpus do NURC, material precioso, retrata uma “norma urbana culta” já em boa medida ultrapassada, ainda que revele uma distância larga e funda com relação ao que era previsto na tradição gramatical normativa. Seu valor como documentação de uma importante fase histórica da constituição do português brasileiro contemporâneo permanece, apesar de tudo, imprescindível. E a melhor prova disso é que o material do NURC conhece agora uma nova etapa de sua história cinquentenária: sua transformação em dados digitalizados segundo as mais avançadas técnicas de tratamento informatizado de corpus. Diante de todas as dificuldades passadas, presentes e futuras de se fazer ciência no Brasil, ver o NURC chegar aos seus cinquenta anos ainda vigoroso e capaz de suscitar cada vez mais estudos importantes para o conhecimento do português brasileiro é um feito capaz de renovar e reafirmar nossas sempre ameaçadas esperanças.