A crise do nosso tempo — tem-se dito e redito — é essencialmente uma crise moral, uma crise de educação. E esta verdade, que a força de ser repetida tem já o sabor dum truísmo, ninguém de são juízo a contestará.
É que o homem, para viver como homem, carece de virtudes: se as não possuir degradar-se-á fatalmente, mesmo que conquiste sobre a terra todo o poder da riqueza.
Tão necessária como o pão que come, mais necessária do que o pão que come, é, para ele, a educação que recebe. Se o não soubéssemos pelos ensinamentos da moral e do Evangelho, sabê-lo-íamos pelas lições da experiência e da História. Mas o homem, desgraçadamente, tem fraca memória: dominado pelos cuidados do corpo, parece esquecer de todo que é espírito. A preocupação egoísta da satisfação material cegada a todo o momento, torna-lhe facilmente odiosa toda a educação que tenda a dominar os sentidos pela razão, a submeter os instintos pela vontade, a formar, numa palavra, a pessoa em vez do animal.
Ora, por muito grande que seja a loucura do mundo, os pais cristãos — pelo menos esses — não podem esquecer de que não são apenas os pais da carne, mas sim também os pais do espírito de seus filhos; de que a paternidade não se limita à geração de um pedaço de matéria e de um organismo, mas sim também à formação de um coração e de uma inteligência; de que não são apenas os obreiros dum corpo, mas sim também os modeladores duma alma e os artífices dum destino!